Quadrilha

Dos salões franceses às festas juninas

José Ramos Tinhorão
01/01/1900
Dança coletiva de salão baseada em formas de alegres danças populares, surgida na Europa de inícios do século XIX como continuação modificada da contradança, trazendo a euforia do período de conquistas napoleônicas do Consulado e Império da França. Foi chamada de quadrilha por suas figuras lembrarem a formação militar da squadra (soldados perfilados em quadrado), cujo diminutivo se vulgarizaria acompanhando o espanhol cuadrilla. A dança e música da quadrilha fizeram sua entrada no Brasil ao tempo da Regência (1830-1841), através do modelo francês de contradança a dois ou quatro pares (quadrilha dupla), de som alegre e movimentado, dividida em cinco partes com diferentes figuras, todas em allegro ou allegretto. E isso obedecendo ao seguinte esquema geral: primeira figura em dois por quatro – ou em seis por oito, tal como a terceira – e as três outras (segunda, quarta e quinta) geralmente em dois por quatro.

As cinco figuras dessa quadrilha francesa denominavam-se, respectivamente: Pantalon (por tê-la dançado em 1830 o rei Luís Felipe, em Paris, vestindo pantalonas, e não calções curtos), Eté (antes chamado Avant Deux), La Poule (pela música imitar cacarejo de galinha), Pastourelle (por inspirar-se a música do pistonista Collinet no romance Gentil Pastora) e Chassé Croisé ou Galop (por fazer terminar a dança com animado galope, em que todos os dançarinos mudam de lugar e passam uns na frente dos outros).

A partir do Segundo Império e fins do século XIX, a quadrilha perde, no Brasil, a preferência dos salões, e passa a ser cultivada pelas camadas populares em terreiros, ao ar livre, na área do mundo rural e periferia dos centros urbanos, especialmente no período das festas juninas. Passando então a perceber por todo o país diferentes nomes – quadrilha caipira em São Paulo, mana-chica na região açucareira fluminense de Campos, baile sifilítico na Bahia, e saruê (soirée) na região central – a quadrilha conservaria as características originais de graça e animação, acrescidas de um novo elemento cômico, resultado da incompreensão dos termos franceses pela gente simples. Na voz de comando dos marcadores de quadrilha populares, no Brasil, en avant tous se transformaria em alavantu, tour em giro, balancé em balanceio, chemin du bois em caminho da roça e Retournez! Il pleut! em "Volta que está chovendo!" ou "Olha a chuva!"


Músicas

Uma Noite de Folia (Joaquim Calado) – Orquestra dirigida por Luiz Gonzaga Carneiro
Família Meyer (Joaquim Calado) – Orquestra dirigida por Luiz Gonzaga Carneiro
O Domingo no Poço (Candido Lira) – Orquestra dirigida por Luiz Gonzaga Carneiro
No Baile (Anacleto de Medeiros) – Art Metal Quinteto e Banda de Câmara Anacleto de Medeiros
Quadrilha (Antonio Madureira/ Ronaldo Brito/ Assis Lima) – Antonio Nóbrega
Piriri (João Silva/ Ary Rangel) – Luiz Gonzaga