Prêmio Tim enquadra a MPB em <i>black-tie</i>

Zeca Pagodinho e Milton Nascimento foram destaque na primeira edição do evento, realizada no Rio de Janeiro

Marco Antonio Barbosa
22/07/2003
Se o grande homenageado da noite foi Ary Barroso, quem saiu coberto de louros da noite do primeiro Prêmio Tim de Música Brasileira foram Zeca Pagodinho e Milton Nascimento. O evento, realizado esta noite (dia 23) no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, distribuiu 37 prêmios em 12 categorias distintas - da música erudita ao som eletrônico - e, pelo menos em termos de pompa e circunstância, parece ter chegado para preencher a lacuna deixada pelo fim do Prêmio Sharp. "Para mim, é uma honra poder prestar este serviço ao mundo musical brasileiro mais uma vez", disse o organizador do Prêmio Tim (e também mentor do Prêmio Sharp), o empresário e cantor José Maurício Machline. Além das premiações, viu-se uma série de apresentações especiais de grandes nomes da MPB relendo as músicas de Ary Barroso, que completaria 100 anos de idade em 2003 e foi escolhido como homenageado especial da primeira edição do prêmio.

A cerimônia no Municipal teve ares de festa hollywoodiana. Celebridades não apenas da área musical desfilavam em traje black-tie diante das câmeras da Rede Globo de TV (que gravou o evento para exibir um especial, que vai ao ar no domingo, dia 27, logo após o programa Fantástico). O palco do teatro foi transformado em um campo de futebol estilizado, no qual o ator André Valli - fisicamente parecido com Ary Barroso e tornado mais ainda pela caracterização - serviu de mestre de cerimônias. Esquetes cômicos - dispensáveis, na verdade, mas engraçados - alternavam-se entre as intervenções de André e os números musicais, interpretados por uma banda (Lula Galvão, violão; Itamar Assiere, teclados; Marcio Mallard, cello; Bochecha, bateria; Jorge Helder, baixo; Mingo, percussão; e Zé Canuto, sax) comandada por Wagner Tiso, ao piano.

Um dos convidados mais festejados da noite (tanto pelo público quanto pelos apresentadores), Zeca Pagodinho saiu sobraçando dois troféus, o de melhor cantor de samba e o de melhor disco de samba (Deixa a Vida me Levar). Além disso, a música-título de seu álbum, composta por Serginho Meriti e Eri do Cais, foi escolhida pelo júri como a melhor canção. Valeu a pena ter comparecido apenas para ver o pagodeiro, pela primeira vez, envergando um smoking. Milton Nascimento também ganhou dois prêmios, um por melhor disco de MPB (Pietá ouvir 30s), outro como melhor cantor de MPB.

Quem também saiu duplamente premiado foi Hermeto Paschoal, que viu seu conjunto ganhar na categoria melhor grupo instrumental, e ainda levou o prêmio de melhor arranjador. Cássia Eller levou dois prêmios póstumos, melhor cantora de pop-rock e melhor cantora pelo voto popular; a intérprete, falecida em dezembro de 2001, foi representada no palco por Lúcia Araújo, a mãe de Cazuza. No mais, os troféus foram salomônica e diplomaticamente distribuídos. Merece registro também a estranheza de ver um dos membros do conselho do Prêmio (Gilberto Gil) e um dos jurados (Lenine) ganharem cada um prêmio. Finalizando a noitada, André Valli lembrou de dedicar o evento também a três grandes nomes da música brasileira que faleceram recentemente: Waly Salomão, Almir Chediak e Itamar Assumpção.

Os shows apresentaram algumas parcerias até então inéditas, recriando, com maior ou menor ousadia, os clássicos do repertório de Ary Barroso. Yamandú Costa, com Wagner Tiso ao piano, estraçalhou - no melhor dos sentidos - Aquarela do Brasil no violão. Ney Matogrosso e Paulinho da Viola, que cantaram Pra Machucar Meu Coração, sairam-se bem, embora um tanto contidos. O oposto da performance de Alcione e Martinália em É Luxo Só; com muito humor e ginga, a dupla foi uma das melhores coisas do espetáculo. Na Batucada da Vida reuniu Zélia Duncan e Luiz Melodia (que, mesmo com uma dália gigantesca colada no palco, tropeçou nos versos); Chitãozinho & Xororó demonstraram muita afinação numa emocionada No Rancho Fundo; já Elza Soares (com Grand Monde Criouléu) e João Bosco (Rio de Janeiro) cantaram sozinhos. Ao final, a atriz e cantora Stella Miranda, caracterizada como Carmen Miranda, mandou um medley de canções de Ary tornadas célebres na voz da Pequena Notável, com acompanhamento do Monobloco.

Os premiados:
MPB:
Disco:
Pietá, Milton Nascimento.
Grupo: Tribalistas.
Cantor: Milton Nascimento.
Cantora: Nana Caymmi.

Pop/rock:
Disco:
Acústico MTV, Kid Abelha.
Grupo:Nação Zumbi.
Cantor:Luiz Melodia.
Cantora: Cássia Eller.

Samba:
Disco: Deixa a Vida Me Levar, Zeca Pagodinho.
Grupo:Fundo de Quinta.
Cantor: Zeca Pagodinho.
Cantora: Alcione.

Canção Popular: Disco:
Cada Vez Melhor, Jamelão.
Dupla: Chitãozinho & Xororó.
Grupo: Communion.
Cantor:Roberto Carlos.
Cantora: Deborah Blando.

Regional: Disco:
Chegando De Mansinho, Dominguinhos.
Dupla:Zé Mulato & Cassiano.
Grupo: Cordel Do Fogo Encantado.
Cantor: Alceu Valença.
Cantora: Elba Ramalho.


Instrumental: Disco:
Duo Cesar Camargo Mariano & Romero Lubambo.
Solista: Paulo Moura.
Grupo:Hermeto Pascoal & Grupo.

Especiais:
Projeto visual:Imagens Brasileiras, Visualitá Criação.
Revelação: Teresa Cristina.
Arranjador: Mundo Verde Esperança, Hermeto Pascoal.
Canção: Deixa a Vida Me Levar (Serginho Meriti / Eri Do Cais).
Disco em língua estrangeira: Kaya N´Gan Daya, Gilberto Gil.
Trilha sonora: Cidade de Deus, Antônio Pinto & Ed Cortês.
Erudito: Imagens Brasileiras, Orquestra De Câmara Solistas De Londrina.
Infantil: Contos, Cantos e Acalantos, José Mauro Brant.
Projeto especial: Songbook Braguinha.
Eletrônico: Suba: Tributo, vários artistas.

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