Portugueses com sotaque musical brasileiro
A cantora Maria João e o pianista Mário Laginha vêm ao país para shows com Gilberto Gil e aproveitam para apresentar seu novo CD, Chorinho Feliz, resultado de uma absorção intensiva da MPB
Carlos Calado
27/07/2000
Três meses de demora não diminuíram a boa surpresa do novo CD da cantora Maria João com o pianista Mário Laginha, Chorinho Feliz, que a gravadora Universal acaba enfim de lançar no mercado brasileiro, aproveitando a vinda desses músicos portugueses ao país. A dupla se apresenta por aqui este fim de semana – sábado no Posto 10 da praia de Ipanema (RJ) e domingo na Praça da Paz do Parque do Ibirapuera (SP) – ao lado de Gilberto Gil e da Orquestra Arte Viva, com entrada franca, pela série Pão Music 2000. Juntos, o anfitrião brasileiro e seus convidados prometem cantar Aquele Abraço (do próprio Gil) e Desde Que o Samba É Samba (de Caetano Veloso), entre outros sucessos da música brasileira.
Parceiros há sete anos, Maria João e Mário Laginha estão hoje entre os músicos europeus mais conceituados no cenário do jazz internacional. Ao aceitarem uma encomenda da Comissão Nacional dos Descobrimentos Portugueses para gravar um disco em homenagem ao Brasil, evitaram a obviedade. Em vez de interpretar clássicos da música popular brasileira, como tantos outros já fizeram, preferiram compor juntos as 12 faixas de Chorinho Feliz, inspirados no que já conheciam dessa música, ou ainda no que viram e ouviram, durante uma viagem pelo Nordeste do país, em novembro do ano passado. Boa parte das gravações aconteceu no Rio de Janeiro, em fevereiro último. O lançamento do disco em Portugal se deu em abril.
"Este disco não é apenas uma homenagem. É também o nosso ponto de vista sobre o Brasil. Mário e eu fomos autênticos bisbilhoteiros, andando pelas ruas, lendo histórias ou simplesmente vendo TV. Foi um trabalho de esponja", diz a intérprete portuguesa, lembrando que ambos tinham muita curiosidade em conhecer o Nordeste brasileiro. "Queríamos não só ouvir o forró e o maracatu, mas também ver as pessoas, escutá-las, sentir o cheiro das cidades", diz Laginha. "Além de visitar Salvador e Recife, fomos a Caruaru, em Pernambuco. Percebemos ali várias semelhanças com o Sul de Portugal, especialmente com o Alentejo", analisa Maria.
Músicos brasileiros marcam presença
Segundo a cantora, o critério de seleção para os vários convidados brasileiros que participaram das gravações misturou "admiração, paixão e identidade musical", referindo-se às escolhas de Gilberto Gil e Lenine, que aparecem nos vocais, além de Toninho Horta (violão), Toninho Ferragutti (acordeão), Nico Assumpção (baixo), Armando Marçal (percussão), Ivo Meirelles e a bateria da banda Funk’n Lata. "Jamais convidamos uma estrela por causa de seu nome. Só nos interessam convidados que façam a música brilhar", afirma a cantora.
Maria João relaciona entre suas primeiras influências de música brasileira os nomes das cantoras Flora Purim, Elis Regina e Elba Ramalho, ao lado dos compositores e intérpretes João Bosco, Caetano Veloso, Gil, Chico Buarque e Luiz Gonzaga. Já o pianista destaca os nomes de dois grandes instrumentistas: Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti.
"O Brasil é pródigo em revelar novos músicos", diz Laginha, confessando a surpresa que ele e Maria João tiveram ao ouvir pela primeira vez a música do pernambucano Lenine, num dos inúmeros discos que compraram durante a viagem pelo Nordeste. "Ele é fantástico, é a nossa paixão mais recente. Eu me sinto muito à vontade no balanço do Lenine", diz Maria, que tem o cuidado de cantar em um português praticamente sem sotaque lusitano.
Outro aspecto que chama atenção, no CD Chorinho Feliz, é a variedade rítmica das composições da dupla, que misturam baião (Forró da Rosinha), maracatu (Flor), samba (Sambinha), toada (A Lua Partida ao Meio) e bolero (Um Amor) com ritmos africanos (O Chão da Terra, cantada em um dialeto falado em Moçambique), sempre com muita improvisação. "Temos um pé no jazz e o outro anda a saltar de país em país. Para nós, não faria sentido tocar um jazz fundamentalista. O que fazemos hoje é muito mais a nossa cara: uma música com influências de Portugal, da África, do Brasil, até da Índia", autodefine-se Laginha. "Eu me vejo como uma esponja: absorvo tudo que se passa à minha volta", completa Maria João.
Parceiros há sete anos, Maria João e Mário Laginha estão hoje entre os músicos europeus mais conceituados no cenário do jazz internacional. Ao aceitarem uma encomenda da Comissão Nacional dos Descobrimentos Portugueses para gravar um disco em homenagem ao Brasil, evitaram a obviedade. Em vez de interpretar clássicos da música popular brasileira, como tantos outros já fizeram, preferiram compor juntos as 12 faixas de Chorinho Feliz, inspirados no que já conheciam dessa música, ou ainda no que viram e ouviram, durante uma viagem pelo Nordeste do país, em novembro do ano passado. Boa parte das gravações aconteceu no Rio de Janeiro, em fevereiro último. O lançamento do disco em Portugal se deu em abril.
"Este disco não é apenas uma homenagem. É também o nosso ponto de vista sobre o Brasil. Mário e eu fomos autênticos bisbilhoteiros, andando pelas ruas, lendo histórias ou simplesmente vendo TV. Foi um trabalho de esponja", diz a intérprete portuguesa, lembrando que ambos tinham muita curiosidade em conhecer o Nordeste brasileiro. "Queríamos não só ouvir o forró e o maracatu, mas também ver as pessoas, escutá-las, sentir o cheiro das cidades", diz Laginha. "Além de visitar Salvador e Recife, fomos a Caruaru, em Pernambuco. Percebemos ali várias semelhanças com o Sul de Portugal, especialmente com o Alentejo", analisa Maria.
Músicos brasileiros marcam presença
Segundo a cantora, o critério de seleção para os vários convidados brasileiros que participaram das gravações misturou "admiração, paixão e identidade musical", referindo-se às escolhas de Gilberto Gil e Lenine, que aparecem nos vocais, além de Toninho Horta (violão), Toninho Ferragutti (acordeão), Nico Assumpção (baixo), Armando Marçal (percussão), Ivo Meirelles e a bateria da banda Funk’n Lata. "Jamais convidamos uma estrela por causa de seu nome. Só nos interessam convidados que façam a música brilhar", afirma a cantora.
Maria João relaciona entre suas primeiras influências de música brasileira os nomes das cantoras Flora Purim, Elis Regina e Elba Ramalho, ao lado dos compositores e intérpretes João Bosco, Caetano Veloso, Gil, Chico Buarque e Luiz Gonzaga. Já o pianista destaca os nomes de dois grandes instrumentistas: Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti.
"O Brasil é pródigo em revelar novos músicos", diz Laginha, confessando a surpresa que ele e Maria João tiveram ao ouvir pela primeira vez a música do pernambucano Lenine, num dos inúmeros discos que compraram durante a viagem pelo Nordeste. "Ele é fantástico, é a nossa paixão mais recente. Eu me sinto muito à vontade no balanço do Lenine", diz Maria, que tem o cuidado de cantar em um português praticamente sem sotaque lusitano.
Outro aspecto que chama atenção, no CD Chorinho Feliz, é a variedade rítmica das composições da dupla, que misturam baião (Forró da Rosinha), maracatu (Flor), samba (Sambinha), toada (A Lua Partida ao Meio) e bolero (Um Amor) com ritmos africanos (O Chão da Terra, cantada em um dialeto falado em Moçambique), sempre com muita improvisação. "Temos um pé no jazz e o outro anda a saltar de país em país. Para nós, não faria sentido tocar um jazz fundamentalista. O que fazemos hoje é muito mais a nossa cara: uma música com influências de Portugal, da África, do Brasil, até da Índia", autodefine-se Laginha. "Eu me vejo como uma esponja: absorvo tudo que se passa à minha volta", completa Maria João.