Mundo Livre, Lobão e Arnaldo Baptista encerram Abril Pro Rock

Numa das melhores noites da história do festival recifense, banda pernambucana comemora sua volta ao APR depois de cinco anos e o mutante arrasa ao lado do roqueiro carioca

Débora Nascimento
23/04/2001
RECIFE - A abertura da última noite do Abril Pro Rock, no domingo, indicava que o resto das atrações enveredaria pelo regional. Às 17h, a Ciranda de Baracho deu início à festa, sem muito alarde. Em seguida, o Sa Grama subiu ao palco principal para provar que nem só de rock'n'roll vive o festival. A propósito, o som do conjunto faz uma mistura de características sonoras nordestinas com as da música erudita. A alquimia foi realizada pelo professor do Conservatório de Música Sérgio Campelo. Ao lado de oito integrantes, o flautista apresentou o repertório dos três discos de carreira. O mais recente deles é a trilha sonora do Auto da Compadecida amostras de 30s, microssérie global e longa-metragem de Guel Arraes.

Encerrada a apresentação (com frevo, diga-se de passagem), o público, que exigia o bis, teve que encaminhar-se ao palco secundário, onde iria começar o show do Textículos de Mary. A banda recifense faz um espécie de glam rock, ou drag rock mesmo. As toneladas de maquiagem e trajes exagerados, além de uma postura de palco irreverente, vêm conquistando uma platéia cativa. É gargalhada na certa. O público fica sem saber se tudo é verdade ou pura encenação. Entre as composições ousadas, que falam de relações homossexuais o tempo todo, houve até espaço para um cover de Xuxa. No entanto, mesmo com a fila do gargarejo disputadíssima, a organização teve que baixar o som para poder dar espaço à atração seguinte, o americano Jon Spencer e sua Blues Explosion, que fez uma apresentação apoteótica.

No outro palco, a banda alagoana Mopho já aguardava o público para a triste missão de suceder o avassalador show de Spencer. Apresentados como seguidores do som dos Mutantes, os músicos não fizeram feio. Canções como O Amor É Feito de Plástico, Mais um Dia, Hoje Eu Lembrei de seu Sorriso e A Música que Eu Fiz pra Você foram encantadoras. Muita gente, no entanto, aproveitou para recarregar as forças nas barracas de sanduíches, caldo de cana e cerveja.

Volta triunfal
Após um jejum de cinco anos, a banda pernambucana Mundo Livre S/A finalmente retornou ao palco do Abril Pro Rock. E foi um dos nomes mais bem recebidos pelos roqueiros. Fred 04 e comparsas detonaram músicas clássicas da banda, como Livre Iniciativa (que, aliás, fechou o espetáculo), mas principalmente divulgou o repertório do seu mais recente disco, Por Pouco amostras de 30s (Abril Music). Por falar nele: o CD, considerado pela crítica um dos melhores do ano passado, só é encontrado em duas lojas locais. Estavam no set list Meu Esquema, Super Homem Plus e O Mistério do Samba. Entre discursos, o fã de A Tábua de Esmeralda (disco imprescindível de Jorge Ben) Fred 04 foi o mais aplaudido da noite, ao lado de Lobão.

Às 22h30, João Luís Woenderbarg chegou com seu vozeirão detonando logo de cara Universo Paralelo (título da música e também do seu selo fonográfico, pelo qual lançou o seu último disco, o vitorioso A Vida É Doce). Algumas canções desse disco alternavam-se com clássicos do grande lobo, como Corações Psicodélicos, Me Chama, Vida Louca Vida e Vida Bandida. Mas a atmosfera de reverência não se compara à reação do público à chegada do mutante Arnaldo Baptista. Junto com Lobão, ele tocou clássicos de sua autoria, como Sanguinho Novo, Sexy Sua, Ando Meio Desligado e Senhor Empresário. Pra se guardar na memória, esta noite foi uma das cinco melhores da história do Abril Pro Rock, que agora ataca em São Paulo, no próximo fim de semana.

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