Marina Lima volta aos palcos com postura teatral

Há seis anos sem se apresentar ao vivo, por desinteresse e problemas de voz, cantora diz que está conseguindo chegar novamente aos agudos

Tárik de Souza
13/05/2000
Afastada dos palcos desde 1994 ("estou ficando quase tão bissexta quanto o Chico Buarque", brinca), a cantora Marina Lima volta com toda força dia 27 de julho. O primeiro show da nova turnê será em Juiz de Fora, seguindo depois para Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis. Do Palace paulista, ela desemboca no Canecão carioca dia 14 de setembro com muita coisa nova, embora a base do repertório seja seu último disco, Pierrô do Brasil. "Mas não é uma excursão promocional, nem uma retrospectiva, que são coisas que não me interessam", garante. A distância dos palcos, além de problemas com a garganta ("era tudo de fundo emocional"), teve a ver com um desinteresse generalizado pelo que via no palco. "Essa história de banquinho e violão já não dá mais nem para o João Gilberto", fulmina. Por isso a cantora prepara um retorno teatral, com direção de Enrique Diaz, o mesmo da reencenação da peça Rei da Vela, de Oswald de Andrade. "Quero que meu palco tenha um segundo andar onde eu possa expor minha cabeça, meu pensamento", metaforiza.

Sem medo de investir em sua porção atriz ("mas sempre com muita música envolvida"), Marina diz que nos últimos tempos assistiu muito teatro ("sem tanta preocupação com o conteúdo, mas o formato das encenações") pensando em como reinserir-se no palco. "Quero um espetáculo em que as pessoas da minha geração se reflitam e possam mostrar-se para os mais jovens sem ressentimentos do passado", diz essa admiradora do lado conceitual da obra de David Bowie ("as músicas dele não me tocam muito"), uma das prováveis inspirações para essa retomada. Satisfeita de poder mostrar-se para o público sem as amarras da turnê promo, Marina vai cantar também inéditas como Mel da lenda (parceria com o tecladista e arranjador William Magalhães, da ressuscitada Banda Black Rio, com quem costuma trabalhar) e Estou assim, com a escritora Fernanda Young, que assinou os textos de seu ensaio fotográfico para a revista Playboy, em novembro passado.

Libido em alta

"Foi um trabalho que me fez muito bem. Além da grana que eu precisava, quebrou um pouco aquela minha imagem de assepsia, que estava errada. Mexeu com a minha libido, fiquei feliz de poder me expor aos 44 anos", defende. "Além, disso, foi um pouco a atitude de deixar falar o que quiserem. Antigamente tudo me doía muito, eu já me machuquei até por conta própria", analisa. A propósito de exposição pública, critica a postura de fotógrafa do próprio trabalho da cantora Marisa Monte em seu recém-lançado Memórias, Crônicas e Declarações de Amor. "Fica aquele tipo de excesso do artista querer fazer tudo. O que interessa não é só técnica, é preciso um pouco de profundidade. Veja se a Madonna vai dirigir os próprios clipes", exemplifica.

A empolgação da volta ("quero essa graça de estar no palco, tenho que aprender a ter prazer nisso") não tropeça sequer no temor de problemas com a voz. "Estou chegando aos agudos de novo, o timbre está com menos sombra. Talvez não tenha a mesma extensão de quando eu parei. Mas estou até fazendo ginástica com as cordas vocais", ironiza.