Falamansa arma o segundo álbum

Após vender mais de um milhão de CDs, os forrozeiros gravam o sucessor de Deixa Entrar

Marcus Marçal
20/06/2001
Um dos nomes mais festejados da atual geração do forró pé-de-serra, o Falamansa é um quarteto que vem dando o que falar no dito "circuito universitário". A ironia da história é que apenas um dos quatro integrantes, o sanfoneiro Valdir do Acordeon, é forrozeiro calejado - os outros membros fizeram escola em outros gêneros musicais como o rock, reggae e o heavy metal e só encontraram a definição de seus caminhos musicais com o baião, o xaxado, o xote e outras bossas do Nordeste brasileiro. Inicialmente o sucesso do grupo era restrito ao circuito universitário, mas vem crescendo em progressão geométrica; prova disso são os concorridos shows da moçada.

No momento, o Falamansa está gravando seu segundo álbum, o sucessor do festejado Deixa Entrar, trabalho pelo qual foram agraciados com o Prêmio Multishow de Música Brasileira e que superou a marca do milhão de cópias vendidas. Para o grupo, essa conquista foi uma vitória da autêntica música popular brasileira. O vocalista Tato nos adiantou uma palhinha de como será o CD, ainda sem título, que conta inclusive com uma homenagem ao mestre Luiz Gonzaga. "Pretendemos continuar trabalhando o forró pé-de-serra nesse próximo CD, com composições inéditas - na minha opinião, o nosso ponto forte. Seguimos na mesma linha do anterior, mas estamos muito mais requintados: tanto na qualidade musical, quanto nas letras. É um disco muito mais pensado, para não haver aquele tabu que muita gente enfrenta: o primeiro disco é bom, mas o segundo é ruim. Essa foi uma das nossas maiores preocupações na elaboração desse trabalho", comentou.

O veterano sanfoneiro Valdir do Acordeon complementa o comentário do vocalista sobre o novo trabalho, ainda sem título. "Não mudamos o nosso som, até porque existe aquela história de não se mexer em time que está ganhando. Esperamos que a galera goste do novo trabalho e continue comprando nossos CDs, para a alegria das crianças lá de casa (rindo)", brincou o músico, fazendo uma alusão ao um milhão e meio de cópias vendidas de Deixa Entrar, o primeiro trabalho do grupo.

Conforme declaração do próprio Valdir, o álbum sucessor da festejada estréia discográfica do Falamansa contém uma homenagem ao mestre Luiz Gonzaga e uma releitura de uma canção do grupo de reggae Dread Lion, Chuva. "No total são dez músicas pop, bem ao gosto da moçada e mais duas canções não tão chegadas ao pop. Mas tudo dentro do universo do forró tradicional, sem misturar com teclados, mantendo a instrumentação do pé-de-serra", disse.

Outras músicas da nova safra seguem o mesmo estilo consagrado pelo público: Fique na Saudade, Ver Pra Crer, Solução e Xote da Alegria, esta última já definida como a música de trabalho do próximo álbum do quarteto. "Todas elas seguem no mesmo esquema alto astral do Deixa Entrar. Esperamos que o pessoal curta esse nosso novo trabalho, e quem gostou do primeiro não tem motivo para não gostar do próximo", arrematou o vocalista Tato, enquanto era assediado por uma meninada nos camarins após uma apresentação do grupo.

Há quem diga que tudo não passa de moda, mas esses ataques não chegam a tirar o sossego dos paulistas que fazem forró, tampouco de seu público - formado por uma garotada que só tem o contato com o trabalho de mestres como Gonzagão, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos e Trio Nordestino via o forró mais acessível dessa moçada mais nova. Tato nos falou sobre o atual hype em torno do gênero: "Na minha opinião, a grande diferença entre o forró e todas essas modas passageiras é que o gênero existe há quase cem anos. Então, já faz parte da nossa tradição cultural e nunca vai morrer, assim como o samba. Apesar disso temos a noção de que vivemos um auge do forró e não sabemos quanto isso vai durar - mas sabemos que é uma coisa diferente porque é uma coisa eterna, enquanto as modas sempre acabam", disse.

O líder do grupo chama atenção às variadas possibilidades musicais do estilo em comparação a outras modas recentes. "Veja o exemplo do funk, um gênero que estourou em vários canais somente com três ou quatro músicas diferentes, até em razão de sua própria limitação. No nosso caso, temos à nossa disposição uma variação ainda maior, tanto na forma de tocar quanto no nosso próprio repertório que mistura material nosso com clássicos do forró. Então acho que essa é a diferença que faz com que o forró não caia tanto por causa de toda essa exibição. Tem muito pano pra manga aí!", conclui.

O Falamansa é ainda formado por Dézinho (triângulo e percussão), Alemão (zabumba) e o já citado mestre Valdir do Acordeon, promovendo um atualizado forró pé-de-serra embalado em sua trindade máxima: zabumba, triângulo e sanfona. O vocalista fala das inusitadas referências musicais do grupo: "Curtimos rock’n’roll, hardcore, reggae e também muita MPB, mas sempre fomos muito ligados ao movimento do forró pé-de-serra que começava a explodir no circuito universitário paulista. Eu e o Alemão éramos DJs de forró, já o Dézinho fazia produções ligadas ao gênero e sem contar o Valdir, que já era um sanfoneiro experiente e nem precisa de comentários", justifica o ataque o principal argumento de seus detratores - que tacham a banda como sendo invenção de gravadora.

Outro fator no qual os críticos mais ferrenhos se baseiam - a falta de autenticidade na música feita pelo grupo - é contestado por Tato. O vocalista do Falamansa ressaltou o preconceito que o Falamansa teve de enfrentar pelo fato de serem uma banda de paulistas que ousam tocar forró: "Todo artista esbarra em focos de resistência em vários momentos de sua carreira. Sofremos um pouco de pressão da mídia nordestina por sermos paulistas. Fora o preconceito que as pessoas têm contra o próprio estilo, associando-o a uma coisa brega. Acho que o forró estava meio deturpado, mas agora passaram a respeitar mais o forró pé-de-serra quanto a sua musicalidade", lavrou.