Dé mostra como se faz uma música

Conheça os bastidores da composição Doce Viver, de Dé, Marcos Valle e Nelson Motta, e ouça o resultado final

Humberto Effe
26/06/2001
No disco Bossa Nova, do cantor Emílio Santiago, há uma delicada canção de texto levemente saudosista, mas com arranjo e harmonia mais próximos dos timbres da música pop contemporânea. Trata-se de Doce Viver uma composição recente de Dé, Marcos Valle e Nelson Motta.

A partir do relato de Dé - leia abaixo - e comparando a demo (gravada por Marcos Valle ao piano, com o próprio Dé na voz, no baixo e no violão) com a gravação de Emílio Santiago (com arranjo de cordas de Lincoln Olivetti e Marcos Valle ao piano) podemos ver uma das muitas formas de desenvolvimento de uma parceria. Aproveite e repare que o piano do disco é praticamente o mesmo da gravação demo.

• A gravação demo completa, feita em estúdio doméstico, por Dé e Marcos Valle, não está mais disponível atualmente
• Compare com uma amostra da gravação de Emílio Santiago

Como foi criada a música

Quem conta a história é o próprio Dé, baixista que fez parte da formação original do Barão Vermelho (com Cazuza, Frejat, Guto Goffi e Maurício Barros), e compositor gravado por Marina Lima, Adriana Calcanhoto, Bebel Gilberto e Cássia Eller.

"Eu tinha a melodia pronta há algum tempo e precisava de alguém para pôr a letra. Como se tratava de uma bossa, fiquei meio sem saber para quem mandá-la, até que meu amigo Hugo Sukman, jornalista e grande conhecedor de música, sugeriu mostrá-la ao Nelson Motta.

"Foi a melhor coisa; o Nelsinho caiu como uma luva. Gravei, mandei para o Nelsinho e ele me enviou um e-mail com a primeira parte da letra já quase pronta. Mas ele também me disse que não tinha gostado muito da segunda parte da melodia.

"E ele tinha razão, pois a segunda parte era quase um rascunho, que eu tinha feito meio de improviso só para terminar a melodia. Então tive a idéia de mostrá-la ao Marcos Valle, com quem eu tinha tocado. Fui um dia à casa do Marcos e em menos de dez minutos ele veio com o que seria a segunda parte da música.

"Gravamos a nova melodia e harmonia e mandamos de volta ao Nelsinho. No dia do lançamento do seu livro "Noites Tropicais" o Nelsinho me disse que ia apresentar a música para o Emílio Santiago, que estava gravando um disco de bossa nova. O Emílio adorou a música e gravou numa versão que tem o próprio Marcos no piano e arranjo de cordas de Lincoln Olivetti.

"Quem a batizou de Doce Viver foi o próprio Emílio minutos antes de gravá-la!".