UM HOMEM SÓ
X (Câmbio Negro) (2001)
Crítica
Cotação:
Um Homem Só é o primeiro disco solo do rapper X, lançado um ano depois que o grupo Câmbio Negro se desfez. Como artista solo, ele traz som novo e discurso antigo: o peso roqueiro, quase metal da antiga formação se foi, substituído por arranjos mais limpos e diversificados. Já a verborragia de X continua a mesma - pregações furiosas, não raro chocantes, sobre a miséria da periferia (no caso a de Ceilândia, cidade-satélite de Brasília, mas poderia ser qualquer uma do Brasil).
Sozinho, X não fez concessões. Não há batidas dançantes, refrões pop, nem samples manjados - o disco é todo de uma economia musical intencional, para dar a maior ênfase possível às letras. Essa opção pelo verbo não impede que a trinca de DJs Marcelinho, TDZ e Raffa engendre bons achados instrumentais. O melhor exemplo é Só Mais Um Dia, enriquecida por violões (tocados por Bell, ex-Câmbio Negro) e uma citação de Cláudio Zoli no refrão (extraída de Sartando Dessa). O resultado mereceu até uma versão acústica, que fecha o álbum (com direito a vocal de Pedro Mariano). Nas faixas mais balançadas, como Violência Gratuita ou Quem É Você, a receita funciona melhor: o arranjo sublinha bem a voz de trovão do rapper. Já em outras (Capital da Esperança ou a faixa-título), mais monocórdias, fica mais árido acompanhar as letras.
X não tem medo de assustar o ouvinte. O tom de suas letras, mais do que revoltado, é lugubre: há racismo (Casa Grande e Senzala, com participação de Rodolfo, dos Raimundos), vida na cadeia (Só Mais Um Dia), desajuste (Um Homem Só), e principalmente o miserê da periferia (Capital da Esperança, Violência Gratuita, Aprender a Votar). É o que mais impressiona no disco: ele não se preocupa em agradar ninguém, posar de bonitinho ou facilitar a vida de quem ouve (uma vez que a realidade que inspira conteúdo das letras não é nada fácil).
Essa compilação de vitupérios ganha mais impacto com a força de sua voz, sem dúvida a mais poderosa do rap brasileiro. Com sua garganta e sua cabeça pensante, X está além do som que faz: a música é mera paisagem para as letras. No seu caso, o meio não é a mensagem.(Marco Antonio Barbosa)
Sozinho, X não fez concessões. Não há batidas dançantes, refrões pop, nem samples manjados - o disco é todo de uma economia musical intencional, para dar a maior ênfase possível às letras. Essa opção pelo verbo não impede que a trinca de DJs Marcelinho, TDZ e Raffa engendre bons achados instrumentais. O melhor exemplo é Só Mais Um Dia, enriquecida por violões (tocados por Bell, ex-Câmbio Negro) e uma citação de Cláudio Zoli no refrão (extraída de Sartando Dessa). O resultado mereceu até uma versão acústica, que fecha o álbum (com direito a vocal de Pedro Mariano). Nas faixas mais balançadas, como Violência Gratuita ou Quem É Você, a receita funciona melhor: o arranjo sublinha bem a voz de trovão do rapper. Já em outras (Capital da Esperança ou a faixa-título), mais monocórdias, fica mais árido acompanhar as letras.
X não tem medo de assustar o ouvinte. O tom de suas letras, mais do que revoltado, é lugubre: há racismo (Casa Grande e Senzala, com participação de Rodolfo, dos Raimundos), vida na cadeia (Só Mais Um Dia), desajuste (Um Homem Só), e principalmente o miserê da periferia (Capital da Esperança, Violência Gratuita, Aprender a Votar). É o que mais impressiona no disco: ele não se preocupa em agradar ninguém, posar de bonitinho ou facilitar a vida de quem ouve (uma vez que a realidade que inspira conteúdo das letras não é nada fácil).
Essa compilação de vitupérios ganha mais impacto com a força de sua voz, sem dúvida a mais poderosa do rap brasileiro. Com sua garganta e sua cabeça pensante, X está além do som que faz: a música é mera paisagem para as letras. No seu caso, o meio não é a mensagem.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas