SÓ CHAMEI PORQUE TE AMO - CARLA VISITA GILBERTO GIL

Cantora de banda baiana que deixa o grupo atrás de uma carreira solo "diversificada" não chega a ser novidade. A princípio, Carla Visi (ex-Banda Cheiro de Amor) se enquadraria no mesmo vagão de artistas como Ivete Sangalo e Daniela Mercury, que trocaram o balancê dos blocos por um duvidoso ecletismo que, na prática, acaba dando no tal romantismo. Mas Só Chamei Porque Te Amo não é um mero caça-níqueis. Para começar, Carla optou por um trabalho conceitual - uma releitura de músicas de Gilberto Gil - o que dá à obra um mínimo de coerência interna. Depois, a cantora não teve medo de buscar músicas inusitadas dentro da vasta obra de Gil, espertamente somadas a um ou outro sucesso. E, como para demonstrar que está mesmo a fim de mudar, brincou bastante com os arranjos, caindo num ponto distante tanto do axé mais ortodoxo quanto das versões originais.

A disposição de Carla (cantora de boa voz e técnica insuspeita) pode ser vista, por exemplo, nas versões de Refazenda e da pouco conhecida Aroma, ambas plenas de balanço e enfeitadas por discretos sons eletrônicos. Madalena vira um misto de baião e salsa, na medida para agradar os foliões nostálgicos. Mais nordestinidade de raiz se encontra em Onde o Xaxado Tá, dividida com Zeca Baleiro; e a influência salerosa volta na gingante Roda. Gil contribuiu com uma faixa inédita, Mamão Papaya, um axé descarado - com uma letra qualquer nota, nada mais que uma relação de estrelas da música baiana. Já em Pretinha, Carla não agüenta e se entrega ao (nem sempre) bom e velho samba-reggae, salpicado de barulhinhos sintetizados. As faixas mais lentas - olha o tal do romantismo aí - decepcionam um pouco, com seus arranjos mais edulcorados à base de timbres artificiais. Seu Olhar e a faixa-titulo (na qual Gil canta com Carla) ficam nessa categoria, com Aqui e Agora ficando um pouco melhor, com um toque de soul abrasileirado na base instrumental. Pecadinhos menores que não chegam a estragar uma estréia solo madura e esperta, bem mais do que se poderia prever.(Marco Antonio Barbosa)