SAMBAS DE ENREDO 2001

Excelentes arranjos, boa gravação, vozes dos puxadores muito bem mixadas às do animado e homogêneo coro. Acreditem, o CD dos sambas de enredo do carnaval 2001 tem vários bons momentos. Pelo menos a metade dos sambas valem o disco. Felizmente, os produtores Laíla e Mário Jorge Bruno tiveram a ótima idéia fazer as escolas repetirem a letra de seus sambas apenas uma vez e, em geral, acabar sem fade-out. O disco começa bem com o ótimo samba da Imperatriz Leopoldinense (Cana-Caiana, Cana-Roxa, Cana Fita, Cana Preta, Amarela, Pernambuco... Quero Vê Descê o Suco, na Pancada do Ganzá!), que apesar do título à la crioulo doido, é criativo e melodioso, versando sobre a cachaça (com referência até a Carlos Cachaça, lendário sambista mangueirense falecido ano passado). A Beija-Flor mantém o clima com A Saga de Agotime - Maria Mineira Naê, sobre a Casa das Minas (de candomblé) do Maranhão. A Viradouro também empolga com um samba (Os Sete Pecados Capitais) que produziu pelo menos uma estrofe interessante: "Em nossa terra se plantando tudo dá/ Tem os que vivem pra comer/ Tem gente que só come se sobrar". A Unidos da Tijuca se sai bem, igualmente, com seu enredo sobre o dramaturgo Nelson Rodrigues, A Tijuca Apresenta Nelson Rodrigues pelo Buraco da Fechadura, com música e letra inspirados ("Fez a vida como ela é/ Desenhou com arte o melhor que viu/ Profano ou querubim/ Mostrou que o mundo é mesmo assim"). Ótimo! Por estarmos diante do carnaval de 2001, diversas escolas aproveitaram a virada do milênio para falar de paz, harmonia, energia etc. Caso da Mocidade Independente de Padre Miguel (Paz e Harmonia, Mocidade é Festa, com destaque para o refrão "Explode amor/ É Carnaval/ O mundo se abraça pela paz universal"), União da Ilha (o razoável A União Faz a Força com Muita Energia, que fala dos elementos da natureza), Grande Rio (Gentileza, o Profeta Saído do Fogo, menos inspirada) e Portela (o otimista Querer É Poder, que não é muito empolgante mas tem letra interessante: "O mundo onde impera a ambição/ Pode ir para os ares no aperto de um botão/ Podres poderes que fazem o homem tentar tomar a vez do Criador/ Tirando vidas que um dia ele plantou").

Há ainda as escolas que homenagearam estados, mas sem muito brilho, como Império Serrano (O Rio Corre pro Mar, que empolga mais no refrão: "Avisa aos navegantes que o Império vem aí/ Olha o bicho vai pegar/ É arte, é cultura, é talento original/ Hoje tem festa no Planeta Carnaval") e Caprichosos de Pilares (Goiás, um Sonho de Amor no Coração do Brasil, cujo refrão também é bom - "Procurei e encontrei minha morena/ Caprichei e agora eu sei, valeu à pena/ Te quero muito, amor, somos iguais/ Sou Caprichosos, sou amor e sou Goiás" - mas sua letra é recitativa demais). O Salgueiro, por sua vez, fala da preservação da natureza sem maior impacto (Salgueiro no Mar de Xarayés, É Pantanal, É Carnaval) e a Mangueira tem letra melhor que a melodia em A Seiva da Vida, que versa sobre a cultura árabe. Finalmente, um absurdo e uma surpresa. A Tradição decidiu homenager Silvio Santos (!!) no enredo Hoje É Domingo, É Alegria, Vamos Sorrir e Cantar!, esquecendo dos absurdos cometidos pelo apresentador contra o povo durante seus programas dominicais. Ainda assim, fez boa letra, superior à melodia. Já a surpresa fica por conta da estreante no grupo especial, Paraíso do Tuiuti, com o curioso enredo Um Mouro no Quilombo - Isto a História Registra, divagando sobre a intersecção das culturas oriental e africana, em um bom samba-enredo, de melodia interessante.(Rodrigo Faour)