FILHA DA PÁTRIA

O mar não está para peixe na seara das novas cantoras da MPB; é difícil conseguir um destaque num meio tão congestionado de intérpretes sem originalidade nem ousadia. Em Filha da Pátria, Cris Delanno ao menos tenta remar contra a corrente e consegue bons resultados. Não há mistério algum na química eficaz da música de Cris. O álbum revela uma cantora de boa voz e rigor técnico mais do que adequado - qualidades realçadas pela boa escolha de repertório, fugindo quase sempre da obviedade. O acompanhamento instrumental, nada bombástico e investindo em instrumentos "reais" (sem timbres falsificados de sintetizadores) é outro trunfo de um conjunto bem diversficado e eclético de canções - tudo isso sem soar samba de crioulo doido.

Predominam as faixas lentas, nas quais a cantora pode demonstrar sua segurança e alcance de timbres (como em Lei da Gravidade ou Brasil, que começa baladesca e termina em samba). Continuando nesta veia, Cris transforma o samba Minha Missão em uma belíssima balada, com um delicado arranjo de sopros envolvendo sua ótima performance; e segue transformando, dando sotaque jazz-soul a It's a Long Way. O samba de morro pede passagem em Camisa Amarela, à qual a cantora imprime a devida malandragem na interpretação. Cris sai-se especialmente bem nas melodias rebuscadas de Yes, Zé Manés, Encontro Marcado e Cigana, todas com ambientação e arranjos sutis. O que contrasta com o balanço de Anima, com tons meio jazz-funk, e de O Melhor da Música Brasileira, cama de baião com acordeon e pandeiro em primeiro plano - e também com o clima quase latino da recriação de Fantasia, de Chico Buarque. (Para comprar o CD, entre em contato com a cantora pelo e-mail cdelanno@hotmail.com.) (Marco Antonio Barbosa)