ALUGAM-SE ASAS PARA O CARNAVAL

Jorge Cabeleira (2001)

2001
Manguenitude
Crítica

Cotação:

Bravo Jorge Cabeleira e O Dia Em que Seremos Todos Inúteis. Depois de surgir em 1994 na primeira geração manguebeat - com um ótimo LP de estréia - o grupo calou-se por anos a fio, imprensado na síndrome "longe demais das capitais". Afinal, a banda nunca fez o périplo Recife-eixo RJ/SP, pecado mortal na mentalidade da grande mídia. Seu segundo álbum, mais do que um trabalho temporão, prova que o tempo passou para o JC, mas não o estagnou. Diferente dos grupos de sua geração (Nação Zumbi e Mundo Livre S/A), que preconizavam a fusão do regionalismo com (uma certa) MPB e a universalidade pop, o JC sempre foi mais roqueiro e agreste. Revitalizavam o legítimo rock nordestino - épico, árido e entupido de guitarras - criado por Alceu Valença nos anos 70. Alugam-se Asas Para o Carnaval segue este cânone, feito de lirismo cru e distorção. Mais sujo e dançante que o primeiro álbum, este novo CD mostra que a autenticidade do som dos recifenses está intacta; e também que ainda há o que criar na cruza entre o regional e o pop.

A grande novidade em relação ao primeiro disco é a inclusão em várias faixas de um naipe de metais, que confere um suingue interessante à sonzeira do quarteto. Dirceu, Pedro, Leão e Rodrigo soam como um grupo de hard rock setentista transplantado para o Nordeste, mas não se deixam limitar por uma fórmula. O balanço ledzepelliniano de Rock do Diabo e o (quase) blues eletrificado de Na Boca do Mundo mostram o débito do grupo com os anos 70. Outros detalhes interessantes podem ser notados no riff sessentão, combinado com groove de metais, em Convite à Meia-noite - que tem ótima melodia pop. Ou na referência à psicodelia, presente em Timothy Leary's Groove, que incorpora de leve influências eletrônicas num empolgante tema instrumental. O sertão sente-se forte em Babylon, com precioso dedilhado inspirado na viola caipira - que desemboca mais um rockão pesado. Assim também é Desafio em Mourão; a tradição vira homenagem explícita em Vida na Estrada, que cita A Volta da Asa Branca, de Gonzagão. Até um inusitado reggae caatingueiro (Corpo Celeste THC 8888 e Mormaço) dá as caras, mostrando que as fronteiras musicais do JC não se limitam à mistureba original que eles criaram.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Trovoada Ouvir
(Jorge Cabeleira)
2 Convite à meia-noite Ouvir
(Jorge Cabeleira)
3 Filho do cão Ouvir
(Jorge Cabeleira)
4 O homem do escuro Ouvir
(Jorge Cabeleira)
5 Rock do diabo Ouvir
(Jorge Cabeleira)
6 Babylon Ouvir
(Jorge Cabeleira)
7 Branco Ouvir
(Jorge Cabeleira)
8 Corpo celeste de 8b88 Ouvir
(Jorge Cabeleira)
9 Desafio em Mourão Ouvir
(Jorge Cabeleira)
10 Mormaço Ouvir
(Jorge Cabeleira)
11 Forró em dó menor Ouvir
(Jorge Cabeleira)
12 Timothy Leary's groove Ouvir
(Jorge Cabeleira)
13 Na boca do mundo Ouvir
(Jorge Cabeleira)
14 Vida na estrada Ouvir
(Jorge Cabeleira)
 
ALUGAM-SE ASAS PARA O CARNAVAL